quinta-feira, 22 de agosto de 2013

CURRÍCULO HIPERTEXTUAL E TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC): OUTROS OLHARES ... NOVAS POSSIBILIDADES



Danton de Oliveira Freitas[1]
Giovanna Marget Menezes Cardoso[2]
Mércia Custódio Torres Nogueira[3]


RESUMO

Na concepção dominante, o currículo possui o papel de representar os interesses do Estado em oferecer ao sujeito o conhecimento que contemple as necessidades de uma determinada sociedade representada pela classe dominante detentora do poder político e ideológico. Intelectuais brasileiros, críticos da concepção dominante, por acreditarem na potencialidade dos aspectos históricos e culturais dos sujeitos, problematizam, analisam e sinalizam para o currículo como um dispositivo capaz de conceber mudanças na escola. No contexto da contemporaneidade, com a presença das TIC, percebemos na literatura possibilidades de mais avanços na concepção de currículo e essas mudanças podem ocorrer levando em consideração o sujeito dentro e fora da escola. Baseado em teóricos como Althusser (1985); Gramsci(1995); Freire (1996); Saviani(2005) e, a partir das reflexões de Macedo (2007) e Lima Jr. (2005; 2007), objetivamos discutir as possibilidades de mudanças nas práticas curriculares vigentes através da proposição de um currículo hipertextual mediado pelas TIC. Metodologicamente o artigo foi construído a partir de estudos e reflexões sobre as produções de teóricos sobre currículo, das discussões desenvolvidas sobre TIC e Currículo no grupo de pesquisa TECINTED e nas atividades da disciplina Gestão da Educação, Tecnologias e Redes Sociais do Mestrado Profissional em Gestão e Tecnologias Aplicadas a Educação – GESTEC. Por fim, consideramos sobre a potencialidade imensurável das TIC para o ensino e a aprendizagem e, enquanto tecnologia proposicional o currículo mediado pelas TIC possibilita aos estudantes o acesso a diversas oportunidades.

PALAVRAS – CHAVE: Currículo Hipertextual. TIC. Prática pedagógica.

DIALÓGOS INTRODUTÓRIOS...

O presente artigo discute as possibilidades de uso das TIC na transformação do currículo escolar, por meio de uma mudança no mesmo, através da reconstrução do currículo numa perspectiva hipertextual proposicional. Para tanto faz uma breve analise da concepção de currículo na perspectiva tradicional e critica e, propõe pensar num currículo enquanto “tecnologia proposicional” [1] (LIMA JR., 2005). Também reflete sobre o uso das TIC como dispositivo[2] potencializador das ações curriculares durante as experiências educacionais. Assim, objetivamos discutir as possibilidades de mudanças nas práticas curriculares vigentes através da proposição de um currículo hipertextual mediado pelas TIC.
O currículo escolar, de modo geral, é compreendido como o conjunto de conhecimentos e saberes selecionados com o objetivo de se formar um determinado sujeito para um determinado tipo de sociedade. Para realizar esta formação o currículo tem na sua essência o conhecimento enquanto objeto.
Diante das mudanças ocorridas na sociedade contemporâneas, também influenciadas pelas TIC, que provocou transformações nos seus diversos contextos, sociopolítico econômico e cultural.  A escola é convocada a desenvolver mudanças no âmbito da estrutura do currículo e da cultura escolar. Para isso, as Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC através de diversos dispositivos tecnológicos (internet, vídeos, teleconferências, softwares, facebook, blog, etc.), podem contribuir de maneira significativa para provocar e potencializar a integração entre essas mudanças pelo fato de possuir o caráter comunicacional e informacional. Essa integração com as TIC, no âmbito educacional, pode provocar no professor um comportamento reflexivo sobre como desenvolver suas práticas  pedagógicas  mediadas pelas TIC, acerca dos objetivos planejados, pois, o uso da mesma será determinado pelo professor através do currículo.
Esta produção é fruto de estudos e reflexões construídas no Grupo de Pesquisa TECINTED e durante a realização do seminário Tecnologia da Informação e Comunicação e Novas Práticas Pedagógicas apresentado na disciplina Gestão da Educação, Tecnologia e Redes Sociais, sob a orientação dos docentes Andre Ricardo Magalhães e Marcea A. Sales, no Mestrado Profissional em Gestão e Tecnologias Aplicadas a Educação – GESTEC, da Universidade do Estado da Bahia/Campus I - Salvador. A metodologia se fundamentou na pesquisa qualitativa, tendo a abordagem bibliográfica como embasamento, a partir das reflexões teóricas e analíticas. Nesse viés buscou-se na literatura os estudos de teóricos como Lima Jr. (2005; 2007), Freire (1996); Macedo (2007); Gramsci(1995); Althusser (1985),  entre outros.

BREVES REFLEXÕES SOBRE CURRÍCULO...

A escola na concepção liberal de educação, objetiva ser o locus de redentora dos excluídos e injustiçados, em que a mesma deve possibilitar a estes a condição de ascensão social, desde que estes cumpram com seu papel de “adquirir os conhecimentos” que esta lhe transmita por meio do currículo. Intelectuais como Althusser (1985), em oposição a esta ideia, afirma que a escola atua como reprodutora da ideologia dominante, agindo por meio do currículo e práticas pedagógicas. Segundo o mesmo, a escola não oferece possibilidade para que os excluídos da sociedade ultrapassassem tal condição, pelo contrário a mesma constitui-se num instrumento da classe dominante  detentora do poder político/ideológico. Portanto, um espaço em que as relações sociais - que favorecem a continuidade desta classe no poder, e que mantém as relações de dominação e submissão existentes - são consequentemente reproduzidas.
Neste viés, o currículo constitui-se no instrumento que possibilita esta reprodução no espaço escolar. Na perspectiva de superação das concepções supracitadas, temos a concepção dialética da escola, de sua relação com a sociedade e de sua função social, representadas por Gramsci (1995) e intelectuais brasileiros como Paulo Freire (1996) e Saviani (2005) que  analisam a escola enquanto locus determinado e determinante, explicitando seu caráter contraditório. Além disso, analisam o papel dos atores que nela convivem e atuam e a seu modo de organização, percebendo-a como espaço de possibilidade de construção da hegemonia pelas classes dominadas.
Para estes intelectuais - que acreditam numa concepção de cultura como elemento importante para a luta hegemônica, que irá possibilitar aos excluídos, não uma ascensão social, mas antes uma transformação social, no sentido de tomada de consciência - a escola tem a possibilidade de contribuir na formação de intelectuais que desenvolverão a capacidade de organizar e formar a cultura da massa, contribuindo com o processo de criação de uma contra-hegemonia. Segundo, Gramsci (1995, p.136)
[...] na “arena da consciência” que as elites utilizam os seus intelectuais orgânicos para manter a dominação.  Entretanto, dado a existência de desigualdades e injustiças torna-se necessário que as consciências sejam libertadas da hegemonia burguesa e criem uma nova cultura.  E nesse processo, a escola pode ter um papel transformador.
O referido autor aponta ainda que “[...] a marca social é dada pelo fato de que cada grupo social tem um tipo de escola próprio, destinado a perpetuar nestes grupos uma determinada função tradicional, diretiva ou instrumental (Idem, Ibsen, p. 136)”. Em Freire (1996) e Saviani (2005) percebemos a mesma visão dialética sobre o papel da escola na sociedade.
A teoria freiriana critica o currículo apontando para o fato de que este concebe o conhecimento como constituído por informações e fatos a serem simplesmente transferidos do professor para o aluno, instituindo, assim, um ato de depósito bancário. Assim, concebido, o currículo está desvinculado do contexto existencial dos sujeitos envolvidos no ato de conhecer.
Em Saviani (2005) percebemos uma teorização focalizada em questões que pertencem legitimamente ao campo dos estudos curriculares. Numa perspectiva critica do mesmo, contudo em oposição a Paulo Freire (1996), ao fazer a separação entre educação e política. O autor critica tanto as pedagogias liberais quanto a pedagogia libertadora freiriana por estas darem ênfase não à aquisição do conhecimento, mas os métodos de sua aquisição. Saviani (2005) evidencia que o conhecimento é outra forma de poder.
Neste sentido podemos inferir que as reflexões postas por Althusser (1985) apenas aponta o caráter reprodutivista do currículo escolar, contudo sem apontar possibilidades de mudanças. Em contra partida temos Gramsci (1995), e no Brasil Freire (1997), Saviani (2005), intelectuais, que avançam na sinalização de transformação através da escola, embora não tenha elaborado uma teoria sobre currículo, acabam discutindo esta questão em suas pesquisas. Contudo, Lima Jr.(2007, p.83) sinaliza que se faz necessário avançar sem negar os postulados postos pelos intelectuais, mas, os problematiza e analisa que
os traços da racionalidade científica moderna estão predominantemente presentes na teoria e prática curricular brasileira. Isto significa que a educação escolar e suas variadas expressões curriculares estão centradas num modelo formal e totalitário de conhecimento, por sua vez norteado por uma visão dicotômica e maniqueísta de mundo e de vida.
Portanto, segundo Lima Jr (2007, p.51),
[...] não são apenas a sociedade e a luta de classes que geram transformações na humanidade, mas também as técnicas, por derivação. Mas ainda, isso não se dá apenas de modo dialético (afirmação, negação, síntese) se dá de um modo muito mais complexo, hipertextual, que evidencia uma imbricação complexa.
Desse modo, o autor nos convoca a pensar em “novas categorias” contrapondo a tradição moderna, de pensar o espaço escolar e consequentemente o currículo, sinalizando, que, “[...] as teorias e práticas curriculares vigentes no sistema educacional brasileiro, tanto nas abordagens reprodutivistas quanto nas críticas (SAVIANI, 1978; 1993 e 1994), estão inscritas e embasadas na racionalidade moderna, uma vez que aspiram ao estatuto e a legitimidade científica.” (LIMA JR., 2005, p. 83).
Neste sentido, o referido autor nos chama atenção para perceber que mesmo numa perspectiva que aponta a ideologia dominante posta no currículo e suas possibilidades de contrapor essa ideologia, pouco ou quase nada se avança em termos epistemológicos, no sentido de transgredir com os modelos/parâmetros/diretrizes/normas, estabelecidas e postas ao currículo.
O mesmo sinaliza ainda que nestes moldes, a pratica curricular no nosso país é centrada num modelo “formal e totalitário de conhecimento, por sua vez norteado por uma visão dicotômica e maniqueísta de mundo e de vida” (Idem, Ibsen, p.83). Contrapondo essa ideia o autor propõe a compreensão do currículo enquanto “[...] tecnologia proposicional de conhecimento, podendo ser compreendido também enquanto um agenciamento sociotécnico onde estão implicados homens-instrumentos-instituições.” (Idem, Ibsen, p.204).

Currículo e TIC

Segundo Lima Jr (2005), no sentido epistemológico, o currículo moderno reproduz e assimila o modelo global, um paradigma de racionalidade, traduzindo, tanto teórica como praticamente o modo de ser formal. Atualmente o currículo escolar [...] é compreendido como um processo de racionalização de resultados educacionais, cuidadosa e rigorosamente especificados e medidos” (SILVA, 2007, p.12) e preservado análogo por todos na cultura escolar. Contudo no contexto contemporâneo o currículo escolar - que possui o conhecimento é enquanto objeto - se percebe tensionado a se constituir a partir das necessidades de cada escola e de cada aluno.
Nesse viés, o currículo escolar passa a ser compreendido como o conjunto de conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, bem como todas as situações vividas pelo aluno dentro e fora da escola, no seu cotidiano, em suas relações sociais, e nas experiências de vida acumulada pelo sujeito ao longo de sua existência. Assim, a partir dessas reflexões concordamos com Macedo (2011, p.43) quando este analisa que
[...] o currículo, seus artefatos e procedimentos são propositivos e estruturantes das situações e experiências educacionais, podendo, ademais, aparecer como analisadores, reveladores e operadores da cena formativa, estes artefatos e procedimentos começam a assumir o sentido que se denomina de dispositivo.
Portanto, para que o currículo possa de fato constituir-se enquanto dispositivo estruturante das experiências educacionais, faz-se necessário que haja uma mudança no papel do professor, que este possa se constituir enquanto propositor de caminhos a partir das reflexões postas pelos sujeitos envolvidos no processo, debater as descobertas e estabelecer links, a partir de teias de informações e comunicações.
Neste sentido, o currículo enquanto “tecnologia proposicional”, conforme preconiza Lima Jr.(2005), pode ter as TIC enquanto dispositivo potencializador das ações curriculares. Por estas possuírem o caráter comunicacional e informacional, que pode possibilitar um aprender e formar-se em um cenário de troca/dialogo - o que não acontece de maneira padronizada e uniformizada - num processo interativo e hipertextual. Nesse contexto as informações não apenas assimiladas e reproduzidas, mas sobre tudo, possibilitando aos sujeitos a criação, alteração, modificação e intervenção, bem como o rompimento como o “solipsismo no fazer pedagógico” (MACEDO, 2011). Nesse viés, revela-se o caráter proposicional das TIC.
Assim, a integração do trabalho com as TIC no currículo, como dispositivo proposicional exige do professor uma reflexão continua e sistemática acerca de seus objetivos, de suas técnicas, dos conteúdos escolhidos, metodologias e de suas práticas pedagógicas e sobre tudo do significado de educação e seu papel. Nesse viés, a questão não está no uso das TIC na escola, pois este poderá ou não acontecer, quem determinará o uso será o professor, a partir do currículo.
O professor poderá desenvolver suas práticas pedagógicas mediadas pelas TIC, através do uso do computador, baseados em uma estrutura na lógica da instrução programada, com ênfase na disciplinariedade e no cognitivismo e no trabalho individual, bem como na ideia das TIC como repositórios de informações descontextualizadas. Ou, reconhecer o computador como artefato cultural do nosso tempo, que tem muitas possibilidades - autoria, convergência, interatividade, colaboração, cooperação, mobilidade, hipertextualidade, entre outras - e provoca novos arranjos curriculares. Assim, segundo Lima Jr. (2005, p.16)  
[...] a compreensão mais aprofundada do significado da tecnologia traz para a educação escolar, em todos os seus aspectos, essa perspectiva criativa e de transformação. Evidentemente, a presença dos recursos tecnológicos é indispensável, mas desde que os mesmos possam ser entendidos e explorados com esta ênfase na criatividade e na metamorfose (mudança, transformação do contexto local).
Nesse sentido, a própria proposta educacional da escola dependerá da forma de uso do computador e das tecnologias a ele associadas. Vale destacar que o currículo tendo as TIC como dispositivo proposicional, requer do professor familiarização com as mesmas, ou seja, o desenvolvimento de sua condição tecnológica, para que ele possa analisar o currículo e inserir o uso das mesmas em suas práticas pedagógicas levando em conta a proposta curricular, os interesses dos alunos e as possibilidades de uso das tecnologias, efetivando assim, sua ação pedagógica.
Nesse viés destacamos a reflexão do referido autor, ao analisar que “[...] as tecnologias atuais de comunicação representam não só um conjunto de ferramentas e métodos de funcionamento, mas uma composição simbólica que atua no desejo e na subjetividade. Não basta pensar a tecnologia, é necessário também funcionar tecnologicamente” (LIMA JR, 2005, p.18).                                                                       

OUTROS OLHARES... NOVAS POSSIBILIDADES.

Com o advento das Tecnologias da Informação e Comunicação - TIC, a sociedade contemporânea ampliou e potencializou suas formas informacionais e comunicacionais através de diversos dispositivos tecnológicos (internet, vídeos, teleconferências, softwares, Facebook, Blog, etc.) com potencialidade de contribuir para as mudanças nas relações/interações estabelecidas pelos sujeitos nos diversos ambientes sociais, a exemplo da escola.
Pensar em mudanças no âmbito escolar significa conceber as necessidades da sociedade/comunidade e dos sujeitos, em desenvolver ações de construção/ desconstrucão/ reconstrução de um conjunto de valores, costumes e conhecimentos consolidados ao longo da história da humanidade, que surgem das relações/interações realizadas pelos sujeitos para atender suas necessidades sociais. As necessidades sociais, as quais nos referimos, perpassam pelas suas representações em aspectos políticos, econômicos, culturais e pessoais (subjetividade).
Nesse contexto, percebemos a importância da participação do sujeito, enquanto agente individual e coletivo da sociedade/comunidade, durante a construção dos processos de mudança. Além disso, não deixamos de destacar que a importância do sujeito só faz sentido quando ocorre a implicação/imbricamento entre as ideias individuais e coletivas desenvolvidas durante as relações/interações construídas em benefício da própria sociedade/comunidade.
Entre esses benefícios podemos destacar a ampliação das condições de relacionamento com outros grupos sociais organizados, por interesses comuns, onde um pode promover interferências e adaptações nos costumes e valores do outro (vice-versa) com o sentimento de partilha e pertencimento. Com esses sentimentos, os processos de mudanças podem chegar aos sistemas educativos através das diferentes práticas pedagógicas desenvolvidas em busca de mudanças qualitativas no ensino e na aprendizagem.
Segundo Souza (2005, p.2), as práticas pedagógicas representam a
parte de um processo social e de uma prática social maior que envolve a dimensão educativa não apenas na esfera escolar, mas na dinâmica das relações sociais que produzem aprendizagens, que produzem o “educativo”.  Expressa as atividades rotineiras que são desenvolvidas no cenário escolar.
A autora evidencia claramente a necessidade das escolas repensarem a prática pedagógica com uma dimensão educativa mais ampla, não apenas para atender a demanda dos professores, alunos, coordenadores, funcionários, políticos e gestores escolares, mas, na perspectiva de contemplar as necessidades de uma sociedade/comunidade que produz conhecimento no seu cotidiano, em condições de ser explorado na sala de aula. Nessa perspectiva, a escola pode dar sentido ao seu fazer pedagógico através da revisão em sua proposta curricular, na perspectiva de desenvolver um currículo hipertextual proposicional que vivencie de maneira profunda a “emergência histórica multifacetada do homem”, conforme preconiza Macedo (2002, p.26) citado por Lima Jr. (2005, p.124).
Lima Jr. (2005, p.124) preconiza que o currículo hipertextual configura-se como um dispositivo que é construído por e pelos sujeitos, numa multiplicidade de vivências curriculares - considerando cada escola/realidade/sujeitos - portanto, segundo o mesmo,
[...] em vez de uma única emergência curricular complexa, teríamos múltiplas emergências curriculares, múltiplas vivências curriculares, numa rede epistemológico-cognitiva interativa, como de fato acontece na convivência contemporânea dos diferentes “espaços de aprendizagens” e” paisagens de sentido”(Lévy,1998), exigindo-se, consequentemente, a ascensão de diferentes “pedagogias”, “didáticas”, “competências”, “performances”, “estratégias”, etc., contribuindo, a partir de sua legitimação para uma democracia não só cognitiva, mas epistemológica e curricular.
Assim, a escola desenvolve o papel sociopolítico em buscar democraticamente a negociação entre à cultura local e o conhecimento escolar para inserir no cotidiano do seu espaço pedagógico a construção do conhecimento a partir da reunião de diversos olhares com o propósito comum. Nesse contexto, o curriculo hipertextual propicia a cultura escolar uma re-significação em sua estrutura política e pedagógica na perspectiva de instrumentalizar necessariamente as práticas educativas para favorecer o desenvolvimento do sujeitos sociais. Também, em ir além nas suas práticas educativas objetivando romper com uma educação que ignora os sujeitos enquanto agentes portadores de saberes históricos e culturais.
Por fim, consideramos que desse modo a escola possibilita ao aluno momentos diferenciados de aprendizagem com autonomia, sociabilidade e mudança. Lima Jr. (2005, p.47) destaca que a escola deve se configurar enquanto
ambiente onde as tecnologias sejam inseridas como elementos estruturantes de novas práticas, práticas que comportem uma organização curricular aberta, flexível, hipertextual. Rompimento da dicotomia educação formal (saber escolar sistemático, linear, abstrato) e educação informal (não escolar, não sistemático e não linear).
Nesse viés, vale destacar que ensinar e aprender no contexto atual requer das práticas pedagógicas  flexibilidade, reconfiguração de espaço e tempo, pessoal e de grupo, processos mais abertos de pesquisa e comunicação, e menos conteúdos fixos. Desse modo a dificuldade posta a cultura à escolar é de conciliar a gama de informações, a imensa variedade de fontes de acesso possibilitadas pelas TIC e perescutar a compreensão dessa transformação, na perspectiva de que estamos submersos em informações e dificuldade em eleger quais são significativas e consegui integrá-las dentro das nossas vidas.
No âmbito educacional, as TIC pode constituir-se num dispositivo proposicional que tem a possibilidade de arquitetar uma comunidade que objetive aprender e ensinar num processo de trânsito pela pluralidade e diversidade, numa perspectiva hipertextual , a partir da construção de um currículo hipertextual  que contemple a perspectiva comunicacional e informacional, como preconiza Lima Jr. (2005). Um curriculo 
[...]. que  passeia/transita/conversar com  diversas possibilidades de conhecimento (os tipos de conhecimento) e os diferentes modos de os produzir,  fazendo dialogar/jogar as diferentes inteligibilidades de cada modo de atribuir/instituir sentido (conhecimento).  como algo rizomático, complexo, hipertextual e uma livre produção do ser humano, capaz de conversar e de passear pelas paisagens de sentido que ele mesmo constrói e se percebe nesta tarefa. (LIMA JR.,2005, p.204).

Constituindo-se assim uma mudança significativa na cultura escolar.

CONSIDERAÇÕES IN-CONCLUSIVAS...

É inegável que as TIC, por meio de seus dispositivos, possuem um potencial imensurável com possibilidades para o ensino e a aprendizagem, servindo como dispositivo de formação para professores e alunos, a partir da transformação do currículo. Contudo torna-se complexo realizar esse potencial se a cultura escolar, por meio de seus currículos estáticos, persistir em considerá-los apenas como meros aparatos tecnológicos, e não como formas de cultura e comunicação.
Enquanto tecnologia proposicional o currículo mediado pelas TIC possibilita aos estudantes o acesso a diversas oportunidades - observar o mundo à sua volta, produzir, interagir e partilhar produções, produzir saberes/informação/conhecimento, desenvolvendo a autoria – nessa perspectiva estes tem a chance de poder criar e consultar recursos rotineiros do século XXI - sites e blogs, sites de redes sociais - e de interagir com pessoas distantes/próximas, de resolver problemas, por meio acesso fácil a informações. Na perspectiva proposicional do uso das TIC os estudantes se interessam pelo mundo que o cercam e usam as mesmas para compreendê-lo melhor e interagir com ele.
Nesse contexto, ao professor cabe provocar e desenvolver a “curiosidade epistemológica” (FREIRE, 1996) dos estudantes, sugerir fontes de busca, ensinar a pesquisar, escolher as informações que atendam suas necessidades, bem como no percurso observar e registrar o que cada um está aprendendo, isto é, dialogar com os estudantes a produção de saber. Ainda, segundo Lima Jr (2007, p. 49), o desafio dos educadores frente às TIC consiste em compreender sua “dimensão estruturante na sociedade hodienda” e, bem como, “compreender quais os novos horizontes, abertos pela formação cultural atual, que tem na emergência tecnológica um dos seus fatores principais.”
Por fim, a maior revolução tecnológica da humanidade é a capacidade criativa do homem e “refletir a tecnologia é refletir o próprio homem, porque o ser humano está totalmente implicado na tecnologia e a tecnologia está totalmente implicada no humano” (LIMAJr. (2005, p.16)

REFERÊNCIAS

ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado. 6a ed. Rio de Janeiro, Graal, 1985.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 22a ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996.

GRAMSCI, Antônio. Os intelectuais e a organização da cultura. 9 ed. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 1995.

LIMA JR., Arnaud Soares de. Tecnologias inteligentes e educação : currículo hipertextual. Quartet, Rio de Janeiro, FUNDESF, Juazeiro/BA, 2005.

__________, A Escola no contexto das tecnologias de comunicação e informação: do dialético ao virtual.Salvador,EDUNEB,2007.

MACEDO, Roberto Sidnei.Currículo, diversidade e equidade: Luzes para uma educação intercritica.Salvador, EDUFBA, 2007.

_____________________. Atos de currículo Formação em ato?Para compreender, entretecer e problematizar currículo e formação.Ilhéus – BA, Eaitus - Editora da UESC, 2011.

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras aproximações. 9. ed. Campinas: Autores Associados, 2005.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: Uma Introdução às teorias
Do currículo, 2ª edição, Belo Horizonte, 2007.

SOUZA, Maria Antônia. Prática Pedagógica: conceito, características e inquietações. In IV Encontro Ibero-americano de coletivos escolares e redes de professores que fazem investigação na sua escola. Lajeado-RS, 2005. Disponível em
ensino.univates.br/~4iberoamericano/trabalhos/trabalho 024.pdf>. Acesso: 05 de maio de 2013.





[1]  Tecnologia compreendida para além de sua base material, ligada à ideia de processo criativo e transformador. LIMA JR (2005)
[2] Dispositivo aqui compreendido conforme Macedo (2009, p.43) como um “conjunto de ações e sistematizações que produzem distinção e organização de elementos. Ainda, um dispositivo não pode ser considerado apenas um instrumento, um procedimento padrão a ser aplicado, trata-se de um artefato que é feito para alterar e ser alterado pela práxis dos atores envolvidos na experiência curricular”.


[1] Professor da Universidade do Estado da Bahia – UNEB /Campus II, Licenciado em Matemática, Especialista em Metodologia do Ensino do Desenho - UEFS, discente do Mestrado Profissional em Gestão e Tecnologias Aplicadas a Educação GESTEC. Técnico Universitário da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS. dantonf@gmail.com
[2] Coordenadora de Sistema da rede pública municipal de Feira de Santana /BA; Professora da Universidade do Estado da Bahia – UNEB /Campus XI, Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Feira de Santana – BA, Especialista em Supervisão Escolar pela UNIVERSO – Universidade Salgado de Oliveira – RJ, Especialista em Metodologia do Ensino da Pesquisa em Educação pela UNEB – Campus XI, Especialista em Mídias e Educação pela UESB,  Aluna do Mestrado Profissional em Gestão e Tecnologias Aplicadas a Educação- GESTEC. margett@ig.com.br
[3] Professora da Faculdade Nobre – FAN, Bacharel em Serviço Social - UCSAL, Especialista em  Gerontologia, Aluna do Mestrado Profissional em Gestão e Tecnologias Aplicadas a Educação- GESTEC. mctn2@hotmail.com

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